-“Só não sou tri campeão porque em 2021 não houve torneio no 29º aniversário de Manoel Viana por conta das restrições devido à pandemia!”

Rafael treina e participa nas oficinas semanais da Escola Aberta da Escola Celina Vares Albornoz de Santana do Livramento, a exemplo do companheiro de viagem, Valmir Souza!

Realizada que foi no decorrer deste último domingo, dia 13 de março, as comemorações do 30º aniversário de emancipação da cidade de Manoel Viana, coube a um jovem que, à primeira vista de bobo não tem nada, ficar com a fatia maior do bolo  e, se assim deixassem, nada sobraria para os demais.

E foi assim que uma dupla dinâmica de tantas incursões  pelos pagos Manoel vianense já nem usam seus disfarces de álter egos  Batman e Robin chegaram quando ainda a luz difusa entre o amanhecer e a madrugada ainda não permitiam distinguir além de poucos metros à frente.   A delegação de apenas dois e capitaneada, é claro, pelo que conhecemos como o milionário e filantropo personagem Bruce Wayne  juntamente com seu fiel companheiro   Dick Grayson, um artista solo  que vagava nas sombras. Entendamos aqui estas analogias. Nosso homem morcego aposentou seu antigo arquétipo e está investindo sua imagem para o mundo nórdico onde pretende aventurar-se na figura de um viking. Para tal, depende que os hormônios de crescimento de sua barba colabores para que seu cavanhaque atinja os almejados 50 a 65 milímetros para que possa receber os devidos adornos afins. Por enquanto não passa dos 11 ou 11,5 centímetros.

E seu arauto? O que falar. A pergunta, portanto, é outra. Que personagem deverá incorporar? Em princípio nenhum. Deverá optar por uma carreira  do exercito de um homem só. Homem não é bem o termo, pois a juventude ainda está fixada em seu fenótipo. Uns fios de uma barba cultivada de uns três ou quatro anos, mal escondem seu fino rosto de uma pele plácida, esquálida e – para os maldosos, de gênero neutro. Neutro ou não, este que está sendo descrito tornou-se BI pela sua própria decisão e esforço.

O tempo não urgia. No entanto, já cansados de esperar, e quiçá sem o que fazer ou assunto para quebrar a monotonia conversando, logo a dupla foi surpreendida por um adiposo cuidador de cães usando um  quipá que praticamente desaparecia – não que fosse pequeno, mas desproporcional pelo tamanho de seu envólucro cerebral. Uma cabeção. Ah, o conjunto da obra bem de adequava às novas terminologias e não menos discutíveis  opções de gênero. Tudo conspirava contra o primeiro anfitrião madrugador, porém não cabe neste momento fazer juízo de valores ou preconceito. Mas que o sorvete estava começando a derreter e escorrer pela casquinha se assim o hipotético leitor permite a analogia.

Mau gosto?

Talvez!

Desrespeito?

Jamais!

Mas sigamos adiante. Após a troca de gentilezas parte a parte e  se houve eventuais e sutis encontros futuros  – ah isso ficará no campo misterioso das especulações.

Passava das oito da manhã e a cidade dormia. Havia na cercania uma viatura de polícia, mas pelos indicativos o ocupante, dominado e vencido pela monotonia dormia como uma criança. Nada. A não ser os intermináveis bandos de aves que anunciavam a chegada de um novo amanhecer com seus grunhidos e cantos das mais diversas espécies, Manoel Viana estava mergulhada no total O Dia em que a Terra Parou. Nenhum sinal de vida. Ativa pelo menos. Aquele soldado dormindo não poderia ser computado. E o Dog Sister? Este fora exceção e nuvem passageira.

Mas só para puxar o tapete deste que escreve estas memórias, quando puxava pela memória imaginativa o que escrever, foram surpreendidos por dois automóveis que estacionaram na contramão.  Era o anfitrião Ciro Rodrigues e outros três, ou seriam dois, não recordo, que chegavam de Alegrete. Atrás deles veio uma camionete contendo uma carga que, ao longe parecia grande e pesada. Na verdade, eram funcionários da prefeitura municipal local trazendo a premiação do evento que motivara Valmir Souza e Rafael El Hanini a viajarem desde Santana do Livramento. Só poderia se tratar de um torneio de xadrez.  Quem se antecipou a esta revelação, parabéns. Sim era o torneio de aniversário da cidade. Espere um pouco, cometi uma cacofonia. Nos meus padrões de escrita, um ato imperdoável. Eu já adiantara isso no primeiro parágrafo.

Havia muito em jogo.

Jogo?

Não!

Disputa!

Diversos troféus e quilos de medalhas. O menor troféu poderia ser comparado a altura de uma criança de três anos. E os demais? Bem, os que contemplariam os campeões das respectivas categorias – se eventualmente seus vencedores optassem por levarem em seus automóveis do modelo sedan, ah – isso seria uma tarefa bem difícil caso o referido veículo não tivesse uma vaca. Entendamos este substantivo como eram chamados os bagageiros fixados sobre a capota dos carros. As medalhas poderiam facilmente serem vendidas nos depósitos de ferro velho. Calma. Não estou depreciando e sim valorizando-as pelo peso do ferro fundido. Medalhas qualidade  indescritível. Excelente. Está aí a razão de tanta mão de obra envolvida para descer e acomodar no novo local das disputas.

Por sinal. Estávamos tendo o grande privilégio de participarmos da história deste jovem e aprazível município. Sim, o torneio de xadrez descerrava a fita de inauguração do novíssimo e moderno Centro de Cultura Esporte e Lazer  de Manoel Viana. Uma edificação digna para quem sabe no futuro, receber grandes torneios internacionais de xadrez. Um espaço arejado, iluminação ótima, toalhetes que não perdem para nenhum shopping ou hotel estrelado além da estratégica localização – no centro da praça em meio ao silencio da natureza com três locais de acesso – a entrada principal e duas grandes portas de vidro nas laterais.

Ansiosos que estavam – o ex álter ego do milionário Bruce Wayne e seu acólito, apesar da larga experiencia de ambos, não viam o momento de iniciarem as atividades e, é claro, serem contemplados com alguns daqueles troféus. Bruce Souza ou Walmir Wayne era o mais impaciente.  Esta avidez podemos atribuir aos seus quase setenta anos, na verdade está com 66, mas é mais lógico arredondarmos acrescentando quatro do que tirar seis e deixaremos com 60, idade de número cheio, sem rebarbas.  Dick El Hanini ou Rafael Graysos demonstrava mais calma. Na verdade, era ele o sete belo e o grande favorito e o personagem que gravaria seu nome na calçada da fama.

Sob a batuta do incansável e abnegado prefeito de direito e não de fato, de Manoel Viana, Ciro Rodrigues à sobra da Secretária de Educação Ana Margaret Oliveira Migotto e os  diretores Candio Irion de Turismo, Francisco Oliveira secretário de obras,  Danrlei Moraes de Departamento Municipal de Desporto e seu adjunto Carlos Mautone  finalmente, após efusivas salvas de palmas que, acreditem, causou alvoroço na passarinhada da praça e, houve até quem afirme ter avistado dois dos macacos prego  observando próximo dali do que se tratava, apoiando o discurso dos três representantes do executivo – finalmente  iniciaram as atividades. Não tinha nenhum capivara. As brigas, no bom sentido referindo-se às disputas, prometiam. Entre ser favorito e vencer existe um hiato. E este se chama descuido. Desatenção. Auto confiança.

Se é certo ou não o jargão popular quando afirma que cachorro velho não aprende truque novo, há quem discorde. Os 3,5 pontos conquistados em 5,0 disputados pelo V.W.  pode evidenciar que este corolário está correto. O normal seria no mínimo 4,5. Espera aí. V.W.  não é a mundialmente conhecida sigla dos automóveis Volkswagen? Algum veículo estava disputando? Se fosse – não seria mais lógico o carro da série televisiva norte americana NBC Super máquina? O Kitt, um autômato com inteligência artificial. Errado. V.W. não é tão somente a abreviatura de Valmir Wayne. Infelizmente quando foi necessário Valmir não teve forças para usar sua arma secreta, os neurônios hiper treinados com mais de 50 anos de xadrez  e empatou com  Dieison Gabbi Fantineli que realizou tática e tecnicamente sua melhor partida da vida. Um final de peões tudo engalfinhados com pouco, ou nenhum espaço para os reis tomarem à frente das ações. Se Dieison estivesse enfrentando outro adversário com certeza perderia – uma vez que Valmir é conhecido internacionalmente como um dos quem sabe até o único, enxadrista dos mais éticos e corretos que se conhece, poderia ter vencido no tempo, pois estava com dez minutos sobrando enquanto o alegretense menos de três. Bastaria jogar evasivamente entregando um peão e fechar a eventual promoção do peão que Dielson não teria tempo para dar o almejado xeque-mate. V.W. olhou para o relógio, ficou um tempo refletindo e decidiu não ser um jogador comum. Estendeu a mão e para a alegria de seu adversário cedeu o empate. Dielson por pouco não abraçou e beijo nosso futuro viking. Em outras circunstâncias – não fosse estas restrições pandêmicas, ah o Valmir não se escaparia.

Como estava com sua hipoteca devidamente em dia – permaneceu na mesa dois e lá esperou seu terceiro adversário. Mal sabia ele que a organização não deu tempo suficiente de descanso para iniciar a terceira rodada. Seus neurônios saíram para dar passeio e não retornaram a tempo para ajuda-lo naquele embate. Pelo menos jogaria de peças negras e poderia ter um tempo para se defender e aguardar o retorno de seu exército. Eles não retornaram. E pior aconteceu. Conclusão.   Perdeu para Roarque Schlüter que agarrou V.W. pela Borba e o jogou para mesa quatro. Sorte que houve pausa para o almoço. Amigo leitor, nem imane quem o senhor Wayne  encontrou bem acomodados no restaurante bebendo umas geladinhas. Cabe aqui uma importante esclarecer um possível erro de interpretação. Por questões de orientações médicas, que não cabe aqui maiores detalhes, entenda-se por geladinhas água mineral, principalmente das marcas isentas de sódio. Não Apenas um. Contados às centenas e quem sabe muito mais. Seus neurônios que recentemente tanto fizeram falta. Eles nem repararam que o patrão se juntara  a eles que aos poucos foram discretamente retornando aos seus afazeres. Como bom e dadivoso homem bem sucedido de negócios e tendo como marca registrada o bom trato, não ligou, ou pelo menos soube disfarçar – apenas despertou a atenção de alguns clientes quando ouviram aquela voz grave e grossa como dedo destroncado:

– Se quiserem seguir bebendo entrem, agora! Voltem ao trabalho!

Curiosamente ao reiniciarem as atividades aquele homem do protótipo de  barbicha, mais para um bode velho do que um viking  – jogou como um mestre. Acontece que rei morto é rei deposto e leão velho não morde mais. O passado não nos contempla com a volta. O que foi, passou, não volta mais. Perdeu o ônibus. Se atrasou. As duas mordidas já não lhe garantiram a suculência do sangue. As próteses não mais afiadas estavam. Não reparou, mas tomara sopa de canudinho e teve que se contentar com o terceiro lugar.

Sentado como se fosse um passageiro humano – e sorte do Rafael que o veículo que ele conduzia era espaçoso para acomodar seu troféu no banco do passageiro com direito a cinto de segurança e tudo demais –  tendo Valmir atrás acompanhado com seu prêmio de sub vice campeão.  O missivista do V.W.  aparentemente não teve dificuldades em sagrar-se bicampeão invicto e  consecutivo dos torneios promovidos pelo Ciro. Na edição 29º Rafael venceu e trouxe em Valmir seu alforge como vice. Quem sabe em 2023 tenhamos um tri. E até lá a barbicha de bode velho tenha se transformado em um respeitoso cavanhaque de viking ou lenhador do Alaska. As fichas estão na mesa e as apostas abertas. Surgirá uma nova dupla? Aquele encontro com o gordinho dog Sister acontecerá de novo? Vai saber!!! 

Valmir Wayne, Wiking ou bode velho?