Ao ritmo de duas horas – a sala vip cônsul argentino Alfredo Sanchez do Bobby Fischer Xadrez Clube teve início recentemente – a disputa entre Tiago Braz e o fenômeno e heptacampeão de Rivera Diego Pelaez o match que irá unificar os títulos – santanense e riverense de xadrez absoluto. E, como já era esperado – o Imperador Braz como passou a ser chamado o antigo menino prodígio, mostrou-se mais sólido e, através de um jogo bem calculado impôs muitas dificuldades ao seu adversário que quase o levou à lona já no início de partida. Transcorrido quase duas horas de muita análise a vida para Tiago estava, como sempre – com a vida muito fácil – tranquilo, seguro de si e a vitória era uma questão de tempo.
Diego no final de jogo ficou praticamente sem ação – e sem tempo, uma vez que com dois peões dobrados , sem duas qualidades com o Rei totalmente exposto aos ferozes e mortais ataque de Tiago. No entanto logo Diego pensou – “não me chamam de fenômeno à toa, vou tentar um último ataque!” – Dama na casa a8 xeque, Rei do Tiago defendeu para d7, Diego finalmente botou sua única e solitária Torre aplicando outro xeque que ainda resta em d1. Parece que por fim Tiago sentiu o golpe – tinha algumas alternativas, poderia deslocar o Rei para c6 ou defender o xeque bloqueando com seu Bispo em d5, mas seria capturado por um Peão branco que estava, dobrado é bem verdade, na casa c4. Não esta não era uma boa saída, deveria existir outra. O imperador pôs-se a pesar. E quanto. O tempo urgia. Aparentemente estava com a partida na mão. Estava. Porque, de repente se viu numa sinuca de bico e –, a sua única saída foi esconder seu Rei em c6. Esconder não foi um termo apropriado para esta situação que começou a se apresentar no imendo fronte de batalha – servido como palco o tabuleiro de quadros 8×8 cm, pois logo a seguir levou outro xeque ‘na cara’ que seria mate se não fosse pelo sacrifício forçado que Tiago teve que fazer entregando sua Dama.
Espera. Algo saiu errado. Tiago sentira o golpe. optou pelo caminho mais difícil. Sim, Tiago tendo que entregar sua Dama botou Diego na partida novamente. Diego agora tem Dama contra Bispo e Torre. Lembra de um dos pares de Peões dobrados de Diego? Pois é – vieram a calhar. De dobrados passaram a passados e motivo de preocupação para Tiago. Diego está melhor. O problema é seu tempo. Menos de cinco minutos contra quinze. No xadrez é uma eternidade. Diego avança peão para g5. Faltam três movimento para ele promove-lo a uma segunda Dama. Tiago, apesar do grande calor da na noite – esta suando frio. O relógio não deixa de castigar o fenômeno. Talvez os deuses do olimpo tenham inspirado Diego ao se deparar no tabuleiro gigante da mesa um do BFXC que logo veio em sua mente uma lembrança que em verdade não vivenciara – mas que de qualquer forma o deixou orgulhoso de ser uruguaio. Aquele descomunal tabuleiro naquele momento se transformara em sinônimo de Maracanã – que há 61 anos fora a redenção de uma nação em detrimento de outra. Foi lá que em 1950 o Uruguai sagrou-se campeão do mundo em cima do Brasil e de virada. E porque não acreditar nas coincidências.
Nem ele está acreditando no que está vendo – a possibilidade de uma vitória histórica no melhor estilo “Maracanaço”. Mas o imperador é valente também não se entrega fácil. Se necessário for, ele entrega suas duas peças pelo tal Peão e impede Diego de fazer outra Dama. A esta altura Diego só vê um obstáculo e ele não se chama Tiago Braz e sim Jaering. Mas quem seria este terceiro elemento no jogo? Simples. É a marca do relógio de xadrez do BFXC e de praticamente de todos os clubes espalhados no Planeta. Peão g6, Torre f6, Peão g7 – o próximo lance é a coroação. Torre de Tiago prontamente colocou sua Torre g6. Mas a situação do imperador Braz estava de mal a pior. Diego move Peão para g8 e ganha outra Dama. Tiago não teve uma alternativa que não seja trocar sua Torre pela segunda Dama do Fenômeno. Agora a partida é outra. Nesta altura dos acontecimentos os tempos se equipararam e o de Diego, acredite, ficou melhor.
Ambos os tempos estão por um fio. Diego dois minutos e Tiago,que antes ostentava uma vantagem estratosférica, depois dos últimos nefrálgicos acontecimentos lhe restava, acredite amigo leitor - menos da metade. Uma luta frenética. Visceral. Tiago tenta resistir ao máximo – estava com três peões contra dois de Diego. Sua única alternativa seria tentar algumas trocas de final e fazer uma Dama. Mas Diego estava decidido. Quando começou a dar xeque não parou mais. Quando o desfecho indicava que seria uma partida empatada por repetição de lances – o fenômeno corajosamente parou de dar xeque e afrouxou o nó do cadafalso que atara em Tiago para que esse ganhasse algum fôleto e respirasse, talvez rezasse por um milagre. Que maldade. Tudo não passava de um blefe, de uma estratégia de Fenômeno. O imperador finalmente viu a possibilidade de passar o tal Peão e rumar à coroação. Uma tática arriscada de Diego. Invés de se preocupar com a promoção do adversário, Pelaez optou por cercar o Rei adversário com o seu próprio monarca. Era o tempo que necessitava, pois, enquanto Tiago realizava jogada evasiva avançando seu Peão para casa b1 onde o promoveria a Dama – Diego se aproximava do objetivo. Quando finalmente Tiago fez menção de coroar sua peça – soaram as trombetas, ele passou a ouvir em sua mente uma espécie de marcha fúnebre cuja letra soou bem forte: “Xeque-Mate!” Esta foi uma das maiores partidas já disputadas no BFXC e rendeu um valioso ponto de vantagem para Diego rumo à unificação dos títulos do maior enxadrista do ano na fronteira.