Inspirado que estava pelo espetacular desempenho da equipe brasileira paraolímpica em Londres – o enxadrista Tiago Pereira Braz propôs na noite desta última quinta-feira dia 6 de setembro que se realizasse uma atividade diferente e não os tradicionais torneios noturnos de xadrez relâmpago. Ele se ofereceu a jogar – não uma, mas diversas partidas “às cegas” com quantos forem possíveis. O que de imediato o desafio foi aceito. Seria, segundo seus desafiantes – uma maneira de, mesmo que de forma diferente, uma oportunidade de derrotar o “Menino Prodígio” – uma vez que de outra maneira esta seria uma tarefa inimaginável.
Cabem aqui alguns esclarecimentos. Jogar xadrez às cegas é uma atividade legada a pouquíssimos enxadristas e aqui em nossa fronteira Livramento/Rivera quiçá apenas três ou quatro que dentre eles apenas Tiago está na ativa – pois os demais já não jogam xadrez, seja por já terem falecido e o único vivo largou este esporte há muitos anos. Xadrez nesta modalidade normalmente não envolve o uso do relógio que normatiza o ritmo das partidas e os lances são efetuados por comando de voz onde apenas um dos jogadores tem o direito de mover as peças no tabuleiro. Neste caso o enxadrista que enxerga. Seu oponente apena conserva todos os movimentos em sua memória de longa duração e efetua os lances no interior de seu tabuleiro no cérebro. Ele informa o movimento que mentalmente efetuou – por exemplo ‘T(a) para b8’ – traduzindo. Ele quis dizer que sua Torre que estava na casa (a) se deslocou para a casa b8.
Estes termos, para um leigo pode parecer estranho, mas para todo jogador de xadrez é como um osso para um cachorro. Mesmo estando aqui no Brasil, na China ou em outro lugar qualquer do mundo este animal reconhecerá e saberá que o mesmo serve para que ele o roa e depois enterre. Bem analogias à parte – uma breve explicação. O tabuleiro de xadrez é integrado por 64 quadrados, sendo 32 de cada cor dispostos em linhas, diagonais e colunas. Al linhas são numeradas de um a oito e as colunas com as letras minúsculas a, b, c, d, e, f, g e h. E cada peça é identificada pela letra maiúscula de seu primeiro nome. Por exemplo. Cavalo é C, Bispo B, Rei R, Dama D(e não rainha), Torre T. Apenas os peões não são identificados pela inicial de seu nome. Isso é regra da federação Internacional desde que instituiu a anotação algébrica. Quando o enxadrista se refere ao movimento de um peão – ele deve apenas informar (como se fosse um jogo de batalha naval) a letra da coluna e o número da linha, assim “e4”, quer dizer que o peão foi, ou deve ser movimentar para esta coordenada no tabuleiro.
Voltando ao desafio Paraolímpico. Tiago, jogando de brancas de olhos sempre fechados e com supervisão de um árbitro – mostrou toda sua capacidade não errando em nenhum momento e ainda teve a capacidade de calcular mentalmente os prováveis movimentos de seu adversário para ter certeza que seu lance seria produtivo. Agora imagine a situação. Se para um jogador que está enxergando diretamente o tabuleiro estes cálculos não são fáceis, tente se colocar no lugar de Tiago que teve de fazer isso e sem ver físico e diretamente o campo de batalha. Na verdade ele estava vendo tudo mesmo de olhos fechados. Sua mente guardara cada lance. Se fosse um, dois e até exagerando dez movimentos com muito esforço um jogador mediano até poderá memorizar – mas 30 40 ou até mais, é façanha para um super-humano.
Ao final – depois do inevitável “XEQUE-MATE” o que deixou todos literalmente boquiabertos e atônitos pela demonstração, Tiago ainda organizou todas as peças em suas devidas casas e executou novamente, agora enxergando – todos os movimentos e argumentando o porquê deste ou daquele lance e o que previra que seu adversário eventualmente respondesse. Não é para menos que Tiago Braz em breve trará para Santana do Livramento o maior título que um atleta local imaginara ganhar – o de campeão mundial de xadrez. Capacidade e agora meios ele tem.
Neste link poder-se-á ver como foi a partida com as análises: