De qualquer sorte e apesar das circunstâncias adversas, pelo menos após quatro horas de intensos embates – prevaleceu a lógica e o virtual favorito venceu. Desta forma o – há muito tempo afastado dos louros da vitória que nortearam sua carreira nos anos 90 lhe conferindo a pecha de grande enxadrista e que poderia fazer frente aos imbatíveis na época Cardozo e o paulistinha; o primeiro o tempo se encarregou de imortaliza-lo como “o Belo” e o segundo, bem este foi o responsável de colocar o nome de Sant’Ana do Livramento no cenário internacional e mundial como sendo nosso único jogador profissional de xadrez que tem seu nome no ranking da FIDE (sigla em francês da federação internacional de xadrez que significa o seguinte – Fédération Internationale des Échecs). Trata-se de Nilo Cruxen que, a exemplo do Belo, sempre é um obstáculo difícil e quase intransponível. Porém não desta vez. Ambos sucumbiram – e como, ao novo estilo do velho, mas sempre talentoso jogador Oscar Pablo Lara que, dentre suas grandes deficiências sempre foi o jogo rápido. Ou melhor, era, pois neste último domingo ele conseguiu – no melhor estilo jogo de boliche foi derrubando seus oponentes na medida em que se apresentassem diante dele como simples e indefesos pinos.
No ritmo de 21 minutos em sete rodadas pelo sistema suíço de emparceiramento o torneio comemorativo aos 189 de Sant’Ana do Livramento teve como palco a sala vip do Tropeiro Restaurante – do empresário do ramo gastronômico Luiz Reis que fica em anexo ao Hotel Palace – no novo e seleto reduto do xadrez do Mercosul e que já abrigou grandes eventos e projeta outros tantos possíveis a partir do segundo semestre. O evento que teve a promoção e arbitragem do Bobby Fischer Xadrez Clube recebeu o apoio da provedora de internet Via Expressa e cumpriu mais uma novidade. No decorrer do torneio a organização disponibilizou a todos – chocolate quente num oferecimento do enxadrista Evaldo Saymom. O BFXC premiou com os campeões de cada categoria com um kit da Xalingo (jogo oficial com peças e tabuleiro) além de medalhas até o terceiro lugar.
Porém para Pablo o título teve outras recompensas além de vencer seus arques e centenários rivais – Belo e Nilo. Ganhou preciosos pontos que o conduziu ao topo do ranking do BFXC (https://bfxc.com.br/2021/?p=19488 ) No entanto se engana aquele que pensar ser apenas este dois os algozes que impuseram alguma dose de dificuldade a Pablo; não, na luta também estavam a dupla de campeões da cidade de Bagé Ignácio Marrero e Emílio Mansur além de outros tantos e renomados enxadristas como o campeão de Rivera Chico Alberto Félix Maidana, do heptacampeão departamental e fenômeno Diego Pelaez, do tetracampeão gaúcho Valmir Souza, dos sempre temidos Tiago Braz e Oscar Rodrigues. Realmente os obstáculos de Pablo não foram poucos.
O ALGOZ TIROU O CAPUZ E REVELOU SER BENEVOLENTE: Contudo o grande nome do torneio não foi o vencedor – mas um personagem que de incógnito não tinha nada. Discreto. Quieto. Humilde pelos cantos apenas observando e gravando mentalmente os pontos fortes e débeis de seus eventuais futuros adversário, aquele sujeito magro como um junco, pele cor de cuia curtida e com grandes pestanas negras que mascaravam olhos puxando para o castanho - sempre atentos procurando não perder nenhum detalhe. Este é o Roberto Castillo, mais conhecido como ídolo riverense – que foi o único a não perder para o campeão. Cabe aqui uma reflexão. Era a última rodada e Castillo, talvez se valendo do possível cansaço ou esgotamento mental de Pablo, isso jamais saberemos ao certo – tinha seu adversário no cadafalso. Lara estava com a corda no pescoço. Bastava para Castillo puxar a alavanca do alçapão deixando seu adversário bruscamente cair no vazio quebrando o pescoço e saborear aquele momento de glória. Mas pensou. Que mérito teria se mesmo com a vitória Pablo já era o campeão e ele o vice. Seria uma vitória sem o doce sabor do título. Imaginou os cumprimentos que receberia e novamente o reconhecimento em via-pública que outrora lhe conferiram manchetes em jornais de Rivera e fotos com autógrafos em plena Avenida Sarandi. Logo parou. Observou ao seu redor. Sua mesa de jogo esta cercada por curiosos e sedentos jogadores torcendo por um massacre que talvez falsamente satisfizesse os que conheceram o sabor amargo da derrota para Pablo. Fitou Pablo nos olhos, virou para o relógio e a posição das peças no tabuleiro. Tudo ao seu favor. Teria que tomar uma decisão. Uma questão pessoal. Seria uma injustiça omitir o fato de que Roberto Castillo durante as sete partidas que disputou não tenha tomado um mate! Sim tomou e vários. Mas não o mate típico e nefrálgico que os enxadristas não gostam de tomar – e sim, o bom e velho mate amago uruguaio; que para nós gaúchos muito bem conhecemos como chimarrão.
Se por um lado ele daria prazer aos espectadores que estavam na expectativa do mate iminente, esta por sua vez – seria uma vitória que valeria um ponto é bem verdade, mas só isso. Fez o que imaginou o correto. Negou-se a vencer. Estendeu a mão e ofereceu o empate que para ambos teria um significado completamente diferente. Até que ocorra uma nova coincidência onde Castillo possa se dar o luxo de guardar e cobrar de Pablo esta derrota que não o aplicou “por respeitar sua história” – o ídolo riverense poderá andar de cabeça erguida e orgulhoso em sua cidade que o acolheu e reconheceu. Para Pablo a realidade é outra. Até que voltem a se enfrentar num torneio valendo rating e outros prêmios terá que baixar a cabeça e reconhecer a atitude grandeza e humildade de seu compatriota que o perdoou não lhe aplicando um sonoro xeque-mate
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CLASSIFICAÇÃO FINAL
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